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Morte de ex-jogador levanta polêmica sobre consumo de carne de porco


 
A morte do ex-atacante Leonardo, de 41 anos, na terça-feira (1), trouxe luto para o mundo do futebol e recolocou em pauta um tema que vem sendo muito estudado pela medicina, mas que ainda não está superado: doenças causadas por alimentos contaminados. No caso do ex-futebolista, a neurocisticercose.
Segundo relatos, a causa da doença foi o fato de Leonardo - ídolo do Sport Club Recife, entre outros clubes - ter ingerido carne de porco contaminada com cisticercos, ovos que irão originar a Tênia solium, parasita que se aloja no organismo do porco e também em humanos. A Tênia se desenvolve apenas no intestino. Se ficar restrita a esse órgão, a doença é chamada de cisticercose.
Conforme conta o infectologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Paulo Olzon, o cisticerco pode se infiltrar no intestino ou chegar ao sistema nervoso central, atingindo o cérebro, provocando aí a neurocisticercose. Quando isso ocorre, segundo ele, a situação é mais grave.
— O cisticerco pode obstruir a passagem do licor (líquido) no cérebro e pode causar um aumento da pressão deste líquido no cérebro. Muitas vezes é necessária a cirurgia para conter isso. Quando há obstrução pode haver aumento da pressão deste líquido no cérebro, causando uma dor de cabeça intensa, podendo levar ao coma.
Em um país como o Brasil, em que a infraestrutura sanitária ainda é carente em várias regiões, a doença se torna um risco maior, segundo a nutricionista Ingrid Chaves Correia, professora da Universidade Nove de Julho e especialista em nutrição em Saúde Pública. Ela faz um alerta:
— O grande problema é que muitas pessoas hoje desenvolvem neurocisticercose (ou outras moléstias provenientes de microrganismos) porque compram carne em abatedouros clandestinos ou os animais são criados em casa, onde não há o cuidado adequado. Às vezes o animal se infecta, a família o abate para uma festividade e ele está contaminado.  
Ela conta que é imprescindível que a carne, para ser consumida, tenha um selo (ou carimbo) do SIF (Serviço de Inspeção Federal), do Ministério da Agricultura, que garante a qualidade do alimento. O mesmo critério também, segundo ela, deve ser utilizado no consumo da carne de boi.
— Se houver o registro do SIF do Ministério da Agricultura, pode-se confiar na carne, pois há o acompanhamento de veterinários, tanto antes quanto depois do abate. Este carimbo demonstra que houve cuidado com o animal. 
Ingrid ressalta que a carne de porco não pode ser considerada uma vilã, caso ela seja tratada de maneira adequada.
— A carne de porco é saudável, desde que seu corte seja comparado a um similar de outro animal. Um lombo suíno tem até menos gordura do que uma mesma quantidade de picanha bovina, porque a carne de dentro do porco é puro filé suíno, não tem gordura, é seca. A picanha tem gordura por fora na capa e no músculo. O lombo só tem a capa de gordura por fora. 
A nutricionista ressalta que, na comparação da carne suína com outras carnes, muitas vezes esta apresenta níveis menores de colesterol.
— Isso ocorre em um corte suíno magro. O filé suíno ou lombo sem a capa de gordura tem menos colesterol do que outras carnes, como coxa ou sobrecoxa de frango e carne bovina de qualquer corte.
Cuidado com as complicações
Olzon explica que a Tênia, originada pelo cisticerco, é vulgarmente conhecida por Solitária. Em seu tipo saginata, a Tênia também pode ser transmitida pela carne de boi e se aloja no intestino. No caso do porco, os cisticercos originam a Tênia sólium e podem ser espalhar por mais de um órgão.
— No porco, os cisticercos se alojam no músculo e são visíveis. Na carne é só prestar atenção e ver pontinhos brancos. Quanto a pessoa ingere ela passa a ter a parasitose intestinal. A Tênia pode ter metros de tamanho. 
Olzon conta que o tratamento da parte intestinal é fácil, já que há vários comprimidos que podem eliminar o parasita em apenas uma dose. No entanto, na moléstia cerebral, o cisticerco fica dentro do tecido nervoso e, por isso, não se costuma haver o tratamento para eliminar o invasor. O que ocorre, de acordo com o infectologista, é um acompanhamento permanente para impedir a obstrução cerebral ou outros fenômenos decorrentes da presença do cisticerco.
— Quando você trata efetivamente (para eliminar), muitas vezes inflama o cérebro porque, provocando a morte do cisticerco, este pode liberar uma série de proteínas que causam complicações no organismo. O tratamento é para evitar as complicações. Os cisticercos ficam lá.
Dependendo de onde o cisticerco está alojado, uma neurocirurgia, inclusive com cateteres para desobstruir os canais do cérebro, é necessária para evitar a morte. Mas em geral, segundo o médico, a doença não é fatal, se houver a devida monitoração e os cuidados necessários. Outras sequelas possíveis são a meningite eosinofílica (causada por parasitas), convulsões e edemas cerebrais.

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